Crise nas Ciências e na Psicologia: críticas de Edmund Husserl e de Farias Brito
DOI:
https://doi.org/10.18815/sh.2023v13n23.641Palavras-chave:
Crise da ciência, Crise da Psicologia, Edmund Husserl, Fenomenologia Transcendental, Farias BritoResumo
A Psicologia, enquanto uma reflexão sobre a alma, é uma disciplina ocidental milenar. A psicologia moderna, influenciada pelo método cartesiano e, depois, pelo anseio de ser reconhecida como ciência natural, se separou da filosofia e se constituiu como ciência experimental. Todavia, a transposição do método científico-natural para a investigação psicológica acarretou diversos problemas metodológicos e epistemológicos, devido à natureza de seu objeto: a alma. A Psicologia que antes sondava os mistérios e a complexidade qualitativa da alma humana, passou a se ocupar com a mensuração das experiências internas e dos estados de consciência. Diante desse cenário, este estudo visou evidenciar a denominada “crise” das ciências e da humanidade, decorrentes do positivismo-naturalismo, e a denominada “crise” da ciência psicológica, como apontado por Edmund Husserl e Farias Brito, juntamente com suas críticas à Psicologia científica. Para isso, a pesquisa realizada foi teórico-qualitativa, baseando-se na filosofia fenomenológica e na filosofia de Brito, seguindo os procedimentos metodológicos da pesquisa teórico-bibliográfica. Foram analisados os textos “A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental – Introdução à Fenomenologia” (E. Husserl) e o “Mundo Interior: ensaio sobre os dados gerais da filosofia do espírito” (F. Brito). Da análise dessas obras filosóficas, conclui-se a existência de convergências nas críticas à Psicologia Científica, por ambos denunciarem o equívoco da transposição direta do método científico-positivista para a Psicologia, impossibilitando o acesso à subjetividade e ao estudo da totalidade do humano. Em contraposição, tanto Husserl, quanto Farias Brito apresentam a necessidade de uma “nova ciência psicológica”: a Psicologia Fenomenológica e a Psicologia Transcendente, respectivamente, o que requer novos estudos.
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